Estágio Curricular na Estratégia de Saúde da Família: Pensando na família como unidade do cuidado

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Último ano de curso, último estágio e o tão distante sonho de ser enfermeira se aproxima… Está mais perto do que nunca!

 

Eis que surge a Estratégia de Saúde da Família como cenário de prática, aprendizado e crescimento.

 

O calendário de vacinação já estava na cabeça, o roteiro da consulta de CD e pré-natal cuidadosamente anotado no pequeno caderninho de bolso, para ser consultado quando a dúvida ou a insegurança insistisse em aparecer. O exame físico da criança, da gestante e da puérpera já estava sistematicamente organizado na cabeça. As perguntas que antecedem a citologia oncótica já estavam na “ponta da língua”. As medicações preconizadas pelo HIPERDIA e PNCT tinham sido revistas no dia anterior, numa revisãozinha rápida antes de iniciar o estágio. Um “modelo” de evolução da visita domiciliaria ao idoso ou ao portador de transtorno mental já estava anotado no caderninho de bolso, com letras miúdas que quase não davam para ver.

 

PRONTO… Não faltava mais nada! Estava pronta!

 

Enganam-se quem insiste em pensar assim… Em pensar que só isso basta!

 

Faltava-me algo, algo que nenhuma sala de aula foi capaz de ensinar. Faltava-me sair dos muros da universidade e adentrar no mais profundo e rico espaço de aprendizado e de crescimento pessoal e acadêmico: A Família!

 

A teoria aprendida em sala de aula, os textos lidos e discutidos foram importantíssimos para fundamentar e embasar a prática. Mas, ampliar o olhar sobre os indivíduos, suas famílias e seus contextos de vida foi, sem dúvida, o maior aprendizado que o estágio na USF Panatis, pode me trazer.

 

Como foi gostoso “quebrar” com a visão cristalizada decorrentes da formação de caráter eminentemente biológico que ainda persiste na maioria das profissões da saúde, e construir uma abordagem que tenha a família como foco, sujeito e objeto do cuidado em saúde. Como foi prazeroso identificar-me com as famílias, identificar como elas existem, quem são, como e por quem estão compostas, como funcionam, que papéis desempenham, quais são as forças/potencialidades e fragilidades do grupo familiar.

 

De que adiantava saber o roteiro da consulta de pré-natal, se eu não consigo ver as implicações daquela gestação na familiar e na vida daquela mulher? Se não reconheço os seus sentimentos e subjetividades?

 

De adiantava dizer a mãe para oferecer alimentos rico em fibras, sopinhas de verdura e papinhas de frutas, se ao chegar em casa o que ela têm é uma panela com um caldo de feijão “ralo” e um “pedaço de osso”, conseguido na feira-livre do bairro, pelo filho mais velho, que de velho não têm nada…apenas oito anos?

 

De que adiantava ter em mãos um “modelo” de evolução do idoso acamado ou do paciente com transtorno mental, se eu não consigo vê-los inseridos no contexto familiar, se eu não consigo ver que é o jovem esquizofrênico quem cuida da mãe acamada?

 

Diga-me… De que adianta?

 

É preciso que, ainda enquanto acadêmicos, possamos refletir sobre a família como unidade do cuidado em saúde, repensando os subsídios para o ensino/prática/formação a nível de graduação.

 

Que possamos, enquanto acadêmicos, co-construir o cuidado às famílias, reconhecendo-as, respeitando sua autonomia, favorecendo a resolução dos seus problemas e co-responsabilizando por eles.

 

Maria Concebida da Cunha Garcia

 

Acadêmica do 9° período em Enfermagem

 

(Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

 

Enfermeiranda da USF Panatis

 

P.S: Hoje, após concluir o estágio curricular na ESF, e estando prestes a receber o tão esperado diploma de graduação em enfermagem, só me resta agradecer a “Família USF Panatis” (Natal – RN) – usuários, famílias e todos os profissionais – por me permitirem momentos maravilhosos de aprendizado verdadeiramente significativos! Obrigada, Família Panatis!