Resenha do artigo “Entre o cárcere e a liberdade: apostas na produção cotidiana de modos diferentes de cuidar” de Silvio Yasui.

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Acadêmica de Psicologia- 4° semestre/Noturno/Faculdade Integrada de Santa Maria/ Atividade proposta em aula da disciplina de Introdução a Psicologia da Saúde.

Resenha do artigo “Entre o cárcere e a liberdade: apostas na produção cotidiana de modos diferentes de cuidar” de Silvio Yasui.

 

O artigo “Entre o cárcere e a liberdade: apostas na produção cotidiana de modos diferentes de cuidar” do autor Silvio Yasui, trata do desafio da Reforma Psiquiátrica e a Política Nacional de Humanização como forma de mudar os modos de cuidar e produzir saúde no cotidiano dos serviços.

O artigo aborda quatro experiências profissionais do autor vividas no ambiente de hospitais psiquiátricos, nos anos de 1976, 1983, 1997 e 2012. Em todas elas, o autor destaca as condições de conservação do ambiente hospitalar insalubres e depara-se com pacientes em condições desumanas que o imploram pela saída do local. A partir da descrição destas experiências é possível identificar que ao longo dos 36 anos decorridos, pouco foi feito em relação as condições dos hospitais psiquiátricos.

Embora a Reforma Psiquiátrica, como política pública,tenha ampliado a rede de serviços e ações de saúde mental mostrando avanços em diversos aspectos, o manicômio ainda mantem-se como um desafio a prática de um tratamento que garanta o mínimo de respeito aos pacientes, uma vez que boa parte dos hospitais psiquiátricos no Brasil mostram-se como o retrato mais cruel e violento das condições em que são submetidas os pacientes. O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem a redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário ás ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação de acordo com a lei 8080/90.

Outro aspecto degradante está relacionado a políticas de combate aos usuários de drogas com métodos que incluem a internação compulsória de dependentes em clínicas de reabilitação que oferecem tratamentos que na maioria das vezes não preserva a individualidade do paciente e sua patologia. Não atentando as questões emocionais e de dor as quais este pode ser submetido.

A liberdade a partir da perspectiva basagliana se dá através da prática terapêutica a qual viabiliza a responsabilidade e cuidado do paciente procurando identificar através da escuta o motivo de seu sofrimento e até mesmo de suas necessidades. O sofrimento psíquico muitas vezes de pacientes que se encontram submetidos a regimes de controle e vigilância através de suas constantes ações do dia a dia, tem como o resultado a violência institucional, o isolamento e a degradação humana. Então para que ocorra uma mudança frente a estes resultados históricos de dor psíquica é preciso trazer estes pacientes para trocas sociais, ou seja para um ambiente em que eles possam expressar seus sentimentos e até obter sua subjetividade não estando individualizados.

A Política Nacional de Humanização busca a garantia do caráter humanizado do ambiente de tratamento de pacientes, a partir do reconhecimento e valorização da individualidade do ser e constituição deste como um cidadão portador de direitos. Neste sentido, o autor destaca a Humanização do Sistema Único de Saúde, a partir dos seguintes entendimentos: fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e dos coletivos; aumento do grau de corresponsabilidade na produção de saúde e de sujeitos; estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão; mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas e subjetivas de saúde; e defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção de idade, raça/cor, origem, gênero e orientação sexual.

Tanto a Política Nacional de Humanização, quanto a Reforma Psiquiátrica opõem-se como força de resistência ao atual projeto hegemônico de sociedade que menospreza a capacidade inventiva e a autonomia dos sujeitos. No entanto, ainda existe grande resistência e obstáculos para o desenvolvimento de uma política humanizada, o que faz com que a dura realidade pareça ser imutável frente a rigidez dos processos e a organização dos serviços de saúde e seus modos de cuidar centrados apenas na doença.

O autor ao concluir o artigo traz uma reflexão sobre a necessidade da construção de uma nova visão sobre a condição clínica de pacientes com doenças mentais, baseada na desconstrução do paradigma criado pelo conservadorismo da sociedade, para o qual a doença mental ainda é um fator de condenação do indivíduo ao esquecimento em um manicômio. Ele ainda conclui sobre a necessidade de se enxergar o paciente não como um portador individual de uma doença, mas como um cidadão pertencente a sociedade, dotado de direitos. Neste sentido, os profissionais da Psicologia possuem uma grande importância para um primeiro passo na abertura de uma brecha neste cenário densamente conservador, para a humanização das questões que envolvam o tratamento, o ambiente e a dignidade de pacientes com doenças mentais.

 

REFERÊNCIA

 

YASUI, S. Entre o cárcere e a liberdade: apostas na produção cotidiana de modos diferentes de cuidar. Polis e Psique, v. 2, n. 3,2012, p. 5 – 15.