A NEFASTA DESASSISTÊNCIA DE PESSOAS COM CÂNCER NO RIO DE JANEIRO.

5 votos

As frequentes desculpas das autoridades jamais nos convencerão de que não procedem as queixas pela maneira irresponsável como representantes da classe política, lideranças profissionais de saúde e gestores hospitalares da rede pública municipal, estadual e federal,  do Rio de Janeiro, lidam com questões relativas ao tratamento de pessoas com câncer. Muitos discursos evasivos, conteúdos políticos distorcidos, enquanto a conta mais perversa recai sobre os mais pobres, sem  atendimentos dignos de diagnóstico e tratamento da doença. Entre pretextos mais utilizados, a crise de financiamento público, preferida dos gestores incoerentes, maioria indiferente ao risco de morte enfrentado por milhares que dependem de um ou outro insumo, que minimize suas dores e tranquilize seus familiares.

De que servem tentativas de justificar o irremissível? Quando o que está em jogo são vidas humanas ameaçadas, nesse caso, de pessoas com câncer que apenas contam com serviços públicos de saúde. Os quais de melhor qualidade no Instituto Nacional do Câncer – INCA, onde estão  mais concentradas verbas de pesquisa e assistência. É importante destacar que a instituição não pode atender à todos que precisam de tratamento no Rio de Janeiro, pois também recebe pessoas de todo o país. Além de fazer uma triste previsão para os próximos  anos: a de que essa doença, deva se tornar a principal causa de morte de brasileiros. Na realidade, o que está faltando é competência, seriedade e capacidade de gestão, nas demais unidades hospitalares da rede pública, não de jabutis em cima dos muros e sem saber o que fazer.

Da suspeita da doença ao diagnóstico perde-se tempo em demasia, variando da falta de pessoal para operar os equipamentos, defeitos e longos processos de manutenção desses equipamentos, falta de profissional médico especializado, contratos vencidos e não renovados com empresas terceirizadas, embora haja consenso acerca da relevância na intervenção precoce, como infalível para cura da doença em estágios iniciais. Quando diagnosticada, outra tragédia anunciada, pois a regularidade vital do tratamento não é regra no SUS, ao menos na rede pública de saúde do Rio de Janeiro. Muitos casos de pessoas sem dose do medicamento a ser usado regularmente, outros tantos a espera de exame diagnóstico do tipo de câncer, para dar início a tratamento específico, amargam filas intermináveis e o sistema absolutamente falido. Um caos! 

A Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, deveria ser exemplo de serviços públicos hospitalares, considerando nela concentrado esteja maior número de hospitais da Rede Federal, além das unidades Estaduais e Municipais, somadas ao Instituto Nacional do Câncer – INCA, com várias unidades hospitalares especializadas. Ao invés disso, nas últimas décadas, afetadas pelo sucateamento do setor público, contaminadas pelo vírus da corrupção e gestões politiqueiras, essas unidades hospitalares iniciaram processo de queda vertiginosa na oferta de leitos e padrão de qualidade dos serviços, inclusive, nos quatro grandes hospitais universitários da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Nesse contexto deficitário, as pessoas com câncer estão entre as mais prejudicadas, e a doença continua ceifando vidas de crianças, adolescentes, adultos e idosos das classes de menor posse, ao passo que aqueles que conseguem pagar planos de saúde ficam menos vulneráveis aos desserviços do sistema público. Algo precisa ser feito para dar fim à tão devastadora sistemática, afinal, quem precisa de exames, consultas, medicamentos e demais tratamentos para o câncer não pode se expor a riscos de não os obter, a menos que se institucionalize condenação dessas pessoas a pagar com a própria vida o fato de ter nascido em país de excluídos. Evidente que não gostaríamos de ter o Brasil nessa estatística, mas inevitável que se estabeleça relação direta com a irresponsabilidade daqueles que detém poder de decidir.

Seriedade e compromisso humanitário para resolver a situação seriam bem-vindos, e poderiam ajudar na mudança do status quo. Sensibilidade para pensar na necessidade dos mais carentes, esquecendo-se da esbanjada vida que levam as nossas custas, em particular, os fartos recursos que custeiam seus planos de saúde sem limites de gastos. Verdadeira aberração, considerando que no Sistema Único de Saúde, o que deveria servir a todos, indistintamente, falta o básico do básico. Diariamente, milhões de brasileiros de poucas posses recorrem ao SUS e retornam frustrados aos seus lares, mesmo assim, fielmente apegados à Fé de que algo possa melhorar, pois a situação enfrentada é similar ao fundo do poço e não há mais como descer.

A complexidade que envolve viver entre a vida e a morte por falta de recursos materiais decorrentes da inobservância do gestor público é mesmo um avilte, prova inconteste do quanto a sociedade brasileira precisa evoluir, do ponto de vista de cidadania, para que a população não mais pague por omissão, seu dever de fiscalizar a aplicação adequada dos recursos públicos. Temos consciência de que a desassistência para com pessoas com câncer é fenômeno nacional, não se restringindo ao Rio de Janeiro, apenas o abordamos foco por viver nesse vórtice regional.

Wiliam Machado