PRODUÇÃO DE CUIDADO HUMANIZADO: Uma experiência com o grupo de gestantes na atenção básica de saúde

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Boa tarde, gente! Me chamo Anne Rafaele, sou psicóloga residente do Programa de Residência em Saúde Multiprofissional do Adulto e do Idoso da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Hoje, venho trazer algumas contribuições acerca da experiência com o grupo de gestantes de uma Unidade Básica de Saúde de Maceió/AL.

                 Ao refletir sobre a qualidade do pré-natal, podemos destacar a necessidade de atenção física e psicológica para este momento específico da saúde da mulher. Não é o intuito deste texto generalizar a saúde da mulher unicamente a área reprodutiva. No entanto, torna-se urgente o debate, pois o índice da mortalidade materna ainda é alta no contexto brasileiro.

No ano de 2000 a ONU (Organização das Nações Unidas) cria a Declaração do Milênio, dentre os objetivos a serem alcançados para o ano de 2015 estava a melhoria da saúde da população feminina, um deles era a redução da mortalidade materna. Dentro destas propostas da ONU, aos países, a redução de 75% da morte materna foi colocada como proposta fundamental. O Brasil conseguiu reduzir em 55% e apesar disso, ainda apresenta um índice alto em comparação aos países com taxas menos elevadas. Debates e companhas sobre o risco do parto cesáreo, por exemplo, foram colocadas em pauta no contexto brasileiro. Pois, mais de 60% dos partos nas maternidades públicas são de cesáreas e na rede privada esse número aumenta em mais de 90%. Logo, o risco de morte materna na cirurgia (ou no pós por infecções) aumenta em cinco vezes.

O que pode reduzir esse índice de óbito é o pré-natal qualificado, destacado na atenção básica e a integralidade dos níveis de saúde.  A organização mundial de saúde (OMS) também vem adotando uma série de medidas para melhorar a qualidade da atenção à saúde da mulher. No entanto, os índices de óbitos maternos ainda refletem uma falha nos serviços de saúde da atenção básica. A relevância e emergência de aumentar a qualidade da assistência na atenção básica de saúde é fundamental, pois corresponde a um modelo assistencial, o qual deve articular a prevenção de doenças e agravos, promoção de saúde e acolhimento, sendo definida como a porta de entrada (HEIMANN & MENDONÇA, 2005) e referência do Sistema Único Brasileiro. De acordo com Lopes et al. (2016), neste nível de atenção à saúde é crucial ao acompanhamento adequado das gestantes e parturientes para ser evitado possíveis complicações futuras.

Dessa forma, vale ressaltar a necessidade de discussões contextualizadas, estratégias mais eficazes na assistência e um olhar mais atento e político sobre como esse modelo assistencial, tido como a porta de entrada do SUS no Brasil, tem sido contemplado na sua prática. Especificamente, ao se tratar sobre os índices de mortes maternas no país. Por exemplo, na atenção básica as orientações em relação ao parto normal poderia ser mais valorizados entre os diversos prestadores de serviços da área da saúde.

Dentre algumas ações investidas pelo Ministério da saúde para ampliar o acolhimento e acompanhamento humanizado das parturientes, encontramos a Rede Cegonha – baseada nos Direitos Humanos, fomentando a participação das mulheres e os grupos. Este último foi reativado em parceria com a equipe da residência e a equipe efetiva da UBS. Diante da alta demanda, o grupo de gestantes apresenta-se como uma estratégia importante, pois, além da ampliação da prática humanizada, “possibilita o intercâmbio de experiências e conhecimentos, por isso é considerado a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação. Informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os profissionais de saúde” (MS, 2006).

O grupo de gestantes na UBS relatada no presente texto foi reativado em outubro de 2016, houveram outros grupos anteriores, no entanto, foram desativados por falta de adesão das usuárias. As estratégias utilizadas para o presente grupo foram: Reforçamos os convites com visitas domiciliares; utilizamos recursos midiáticos nas comunidades; nomeamos o grupo de curso, pois mesmo com o puerpério haverá uma continuidade; a disponibilidade de uma fotógrafa para registro deste momento ímpar da gestação, pois muitas das participantes não tem condições econômicas de terem uma fotografia; articulamos a participação da comunidade e incentivamos os companheiros/pais a participarem do grupo.

Nos encontros realizados abordamos temáticas diversas sobre a gestação e puerpério, como: as mudanças corporais, a importância do pré-natal (o masculino também, incluindo assim a saúde do homem e a participação deles nesse processo); alimentação saudável; cuidados com a saúde bucal; aspectos psicológicos durante a gestação e puerpério e os direitos sociais (enfatizando o acolhimento humanizado, acompanhamento durante o parto e a não violência obstétrica).

A saúde materna é tida como indicador de desenvolvimento de um dado território, logo é inadmissível que o processo de reprodução seja prejudicial à mulher. Principalmente, por sinalizar a continuidade de uma sociedade culturalmente machista e desrespeitosa com as mulheres.

Atualmente, o grupo segue com aproximadamente 30 gestantes. Devido aos partos e convites a cada consulta na enfermagem esse número não é fixo, o que se coloca com um desafio contínuo para a adesão. No entanto, os nossos objetivos de organizar a assistência através de atividades no grupo; espaço de troca de experiência entre as usuárias e construção/fortalecimento de vínculos entre equipe multiprofissional e usuárias estão sendo alcançados.

Referências bibliográficas

HEIMAN, L.S.; MENDONÇA, M.H. A trajetória da atenção básica em saúde e do programa de saúde da família no SUS: Uma busca de identidade. In: LIMA, Nísia Trindade; Gerschman, Silvia; EDLLER, Flácio Coelho (Org.). Saúde e democracia: história e perspectivas do SUS. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ. 2005.

LIMA et al. Análise dos fatores intervenientes da mortalidade materna. Enfermagem obstétrica, Rio de Janeiro, 2016.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Pré-natal e puerpério – atenção qualificada e humanizada – manual técnico. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Caderno nº 5. Brasília – DF, 2006.

 

Crédito das fotos: Larisse Cavalcante.