Subsídios, Carreira Jurídica e Distribuição de Renda: Todo o Direito tem um custo.

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Há alguns anos o judiciário veio a público pleitear a substituição de seus vencimentos pelos chamados subsídios. Com isso prometiam que a sociedade iria conhecer o custo real da carreira jurídica de Estado. Além disso, se evitaria que um juiz ou desembargador pudesse extrapolar o teto de vencimentos do Presidente da República. Acabariam os “penduricalhos” os adicionais de salários e os ganhos pelo tempo de serviço. Contra o argumento de que iriam ter o mesmo salário independente do tempo de serviço, eles objetavam que se contentariam com vencimentos dignos.

Na semana passada soubemos pelas notícias de jornal, rádio, TV e internet que o Presidente do supremo Tribunal Federal fez pressão no senado federal pela volta do pagamento de adicionais por tempo de serviço aos trabalhadores do judiciário. Os senadores sentiram que era justo aprovar esta reivindicação da poderosa corporação do judiciário.

A questão é que sabidamente os juízes, assim como os médicos, compõem corporações poderosas e esclarecidas. Esse movimento baliza todo o jogo de interesses e as expectativas que a sociedade tem em relação ao futuro de médio e longo prazo. Nossos mais abastados servidores públicos especulam contra a capacidade de o Estado brasileiro de manter a atual política de enfrentamento da miséria e da exclusão social.

Eles estão mesquinhamente protegendo seus ganhos, em meio a uma expectativa de crise econômica iminente. Protegem-se do aumento de impostos. Consomem a riqueza que vai faltar para garantir os recursos necessários a manutenção do Estado de bem estar previsto na constituição de 1988.

Sem prosperidade, sem riqueza não há como garantir direitos. O bolsa família, o SUS, a educação, todos os chamados direitos são lastrados na riqueza que produzimos, na capacidade que temos de compartilhá-la e distribuí-la com equidade.

Pois bem, nossos juízes recebem seus ganhos do mesmo cofre de onde saem os recursos que pagam os cuidadores das crianças em situação de abandono, dos doentes, dos apenados e dos trabalhadores em geral. Assim, sabemos que é difícil que onerem o Estado brasileiro com gastos que possam fazer escassear os recursos de onde vem seus próprios proventos.

A judicialização da saúde é uma farsa descarada. Juízes não vão obrigar o Estado a gastar o dinheiro de seus próprios salários em direitos sociais. Além disso, sentenças judiciais e leis não podem, por si só, aumentarem os investimentos públicos. Já, como vimos reiteradamente, com relação aos salários de alguns, sempre se pode espremer um pouco mais os cofres da viúva.

O fato é que nossos mais dignos servidores não estão se contendo diante da voracidade com que a riqueza nacional, advinda do recente crescimento da economia brasileira, vem sendo dilapidada por grupos de interesse. Não, eles também querem a sua parte no banquete. A igualdade social e a distribuição de renda ficam para os discursos, já que a vida real é dura.

A busca por ganhos de renda e salário no Brasil deveria parar no teto definido pela média real da divisão de nosso PIB pela população economicamente ativa. Não pode ser maior do que isso. Se for assim, juízes e delegados, médicos e professores estarão ganhando seus salários através do saque dos recursos que deveriam ser destinados a proteção da dignidade e direitos humanos. Isso seria "enxugar gelo".

Estamos vendo que a mesquinhez de uma parcela dos servidores do Estado brasileiro (que tem rendas comparáveis a dos servidores das nações mais ricas do mundo) não tem limite. Daí julgar os pobres como consumidores de impostos em políticas de renda mínima é a pura e acabada definição da hipocrisia.

Mais detalhes:

https://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2014/05/21/senadores-cobram-revisao-dos-planos-de-carreiras-de-magistrados-e-procuradores

“A concessão do benefício poderá levar essas categorias, que são remuneradas por meio de subsídio, a receberem acima do teto constitucional do funcionalismo público, hoje fixado em R$ 29,4 mil”.