DESAFIOS DO ACOLHER, CUIDAR E INCLUIR MULHERES VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: Algumas reflexões.

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A história do Dia Internacional da Mulher começou a ser escrita em 1857, sendo resultado de uma série de fatos, lutas e reivindicações das mulheres, nos Estados Unidos e Europa, com destaque para seu movimento na Rússia, que culminou na queda de Nicolau II, último czar russo, da dinastia dos Romanov, em 1917. Lutas por melhores condições de trabalho e direitos sociais e políticos, que tiveram início na segunda metade do século XIX e se estenderam até as primeiras décadas do XX. Embora a história não registre com créditos meritórios, nasceu do movimento feminista bases sustentadoras da revolução bolchevique, mais tarde distorcida pelo discurso machista do socialismo soviético.

Em 8 de março de 1857, trabalhadores de uma indústria têxtil de Nova Iorque fizerem greve por melhores condições de trabalho e igualdades de direitos trabalhistas para as mulheres. O movimento foi reprimido com violência pela polícia. Repetida a mobilização nos dias 8 de março de 1908 e 25 de março de 1911, quando trabalhadoras do comércio e da indústria de Nova Iorque, respectivamente, fizeram uma manifestação para lembrar o movimento de 1857 e exigir o voto feminino e fim do trabalho infantil. Este movimento também foi reprimido pela polícia, além da maioria das manifestantes terem pago com a própria vida, queimadas em incêndio numa indústria têxtil de Nova Iorque.

Passados mais de 150 anos, e ainda vigoram discriminações das mulheres em seu próprio núcleo familiar, no mercado de trabalho, e na sociedade como todo. Quanto mais supostamente evoluídos, os homens deveriam tratá-las com respeito, valorizando-as como seres humanos dotados de potenciais destacáveis no meio intelectual, artístico, empresarial, econômico, político e social, muitas vezes, superior aos marmanjos que insistem em ignorar o que é fato. Ao contrário, revidam com agressões, truculências, intimidações, maus tratos e violência.

Acolher, cuidar e incluir mães que estampam na face marcas da brutalidade sofrida por seus companheiros, muitas vezes na presença dos filhos ou publicamente, exige dos profissionais de saúde que atuam nos serviços de urgência e emergência hospitalar, muito controle do emocional e a busca de abordagem consoladora que extrapola limiares teóricos convencionais. Lágrimas pulam dos olhos sem menor controle, afinal, somos humanos e nos sensibilizamos diante da barbárie, é natural. Momentos em que o controle do pensamento  harmoniza reações imediatas, para em seguida, passar toda atenção ao ritmo da nossa respiração para que consigamos insight de sabedoria e agir sem julgar o que se desconhece a natureza. Temos primeiro de cuidar dos ferimentos físicos e, concomitantemente, elaborar planejamento estratégico transdisciplinar de atenção integral das demais lesões mentais, emocionais e espirituais dessas sofridas mulheres.   

A literatura internacional é rica em publicações sobre violência doméstica contra mulheres, mundo afora. Presente nas sociedades orientais tradicionalmente machistas, como do Iram, Iraque, Iêmen, Arábia Saudita, tanto quanto nas que se pretendem desenvolvidas do Ocidente, EEUU, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, Espanha, Itália, independente do cenário, costuma apresentar os mesmos rituais de covardia e barbárie, mascarados de atos culturais. Recentemente, estudando os tipos de violência doméstica relatados por mulheres atendidas em Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, da Cidade do Rio de Janeiro, percebi o quão devastador para os filhos que presenciam o espancamento diário das mães. Episódios humilhantes para as vítimas que perdem a autoestima, a dignidade, e difícil para as equipes de aconselhamento social e de cuidados das lesões físicas, emocionais, mentais e sociais, delas decorrentes.

Mulheres narrando variados tipos de violência psicológica, econômica, física, praticadas pelos cônjuges, familiares, vizinhos e outros. De espancamento diário com fraturas ósseas, perda dos dentes, queimaduras, entre outras, variando de moderadas, graves e gravíssimas, além de toda sorte de humilhações. Maioria das mulheres relatou ter custado acreditar que estivesse sendo violentada, outras não denunciavam por vergonha, algumas, inclusive, temiam represálias e maiores prejuízos aos filhos, caso reagissem recorrendo à Lei Maria da Penha. Histórias de vida que nos tiram do chão, de imediato, sem saber o que fazer para ajudar, acolher, cuidar.

Causam-me piedade os agressores, pois merecedores de consternação todos que desatenção tenham para com a Lei do Retorno. Sequer imagino o preço que os algozes hão de pagar à Justiça Divina, quando descerem de novo ao plano carnal, a fim de receber sentenças ou provas de expiação pelo mal, hoje praticado. Não entendo como esses seres se deixam influenciar pela atmosfera psíquica do mal, disponível na mesma medida das energias do bem, para que façamos uso do livre arbítrio. A depender da opção, nossa ascensão ou queda proporcional, em termos de evolução interior, existencial. Como nosso Planeta tem seu próprio ritmo de processo evolutivo, a menos que provoquemos guerra nuclear, não mais haverá espaço para receber seres espirituais destoantes do seu estágio ascendente, evolutivo, cabendo aos retardatários experimentar vida em outros orbes menos evoluídos. Essa é a Lei, e dela ninguém escapa!

Wiliam Machado