Repercussões da série Unidade Básica nas redes sociais

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A repercussão de uma série como a Unidade Básica começa bem antes de seu lançamento. Apostar em uma narrativa nos moldes em que ela se pauta não é prá qualquer um. Diferente de tudo o que foi produzido até agora no nicho dos medicals dramas, trata-se de uma escolha nada inocente e produto de uma outra ordem simbólica, bem diferente do plano por onde se movem as produções televisivas hoje. A suposta complexidade dos casos e procedimentos médicos em hospitais, que tanto seduz a platéia por seus lances performáticos de competência e prontidão, é deslocada para a cena do cuidado em saúde no próprio território onde vivem as pessoas, numa discussão bem mais interessante e contemporânea sobre os modos de cuidar. E desta narrativa qualquer um pode participar e contribuir em vez de pasmar-se no tradicional papel de expectador. Fica muito fácil identificar-se, portanto, e mergulhar intimamente na trama.

 

Assim, desde a ansiedade mais desbragada até uma indiferença de portador do complexo de vira-latas, Unidade Básica provocou uma variedade de repercussões nas redes sociais.  No período anterior ao lançamento, uma infinidade de reações já anunciavam e pareciam repetir o padrão de funcionamento dos humores típicos da vida em redes digitais. O leque vai da desqualificação até a exaltação emocionada dos temas e personagens retratados.

 

De modo geral, a questão da humanização do cuidado em saúde parece ser o tema mais frequente de quase todas as avaliações da singularidade desta série nas redes sociais. Muitos comentários ressaltam a delicadeza e o minimalismo das tecnologias leves no trato com a doença e suas manifestações, como este:

 

“Muitos amigos meus que trabalham no SUS estão compartilhando essa nova série. Espero que ela retrate um pouco do dia dia de uma unidade básica. Pelo que foi divulgado, os protagonistas serão médicos. Acho que isso ajuda o roteiro, claro. Mas quando trabalhei na divulgação da Política Nacional de Humanização do SUS, o que mais me comoveu foi ver tantos profissionais batalhando pelo protagonismo do usuário e pela democratização do sistema, fazendo valer a lei que permite a participação da comunidade nas unidades de saúde. Entre as entrevistas que me fizeram sonhar foi conversar com uma agente comunitária da periferia de são Paulo, que conhecia cada história dos habitantes do seu bairro, e o inesquecível Sr. Israel, agricultor e leiteiro do interior do Rio Grande do Sul. Filho de parteira e conhecedor de plantas, ele tornou-se líder comunitário para lutar COM o SUS e pelo SUS, nunca contra ele. Sinto saudade dos amigos que conheci e com quem aprendi tanto. Tenho pudor de usar a palavra ” herói”, mas é ela que me ocorre quando penso nas pessoas que lutaram pela implantação do SUS no país e que seguem lutando para que ele exista, melhore e não seja destruído por um golpe de estado que, entre outras leviandades, é patrocinado pela indústria dos planos de saúde.” ( facebook )

 

A velha querela entre médicos e outros trabalhadores do campo da saúde aparece com bastante intensidade, capitaneada pelos enfermeiros nas redes. Nos primeiros episódios há a prevalência do protagonismo dos dois médicos em detrimento da informação de que a chefe da unidade é uma enfermeira. A categoria reage com veemência, reinvindicando uma sustentação vital das unidades pelos enfermeiros, como segue nos depoimentos que resumem quase toda a conversa em torno disso:

 

Muito sem noção. Uma Unidade Básica de Saúde sem enfermeiro não funciona. Os diretores têm que visitar uma Unidade da vida real. O enfermeiro é o principal agente da Unidade Básica.”

 

“Sem enfermeiro só na tv mesmo.”

“Confesso que estava ansiosa para assistir a série e que valorizei a iniciativa, no entanto me decepcionei com o fato da ausência do enfermeiro na unidade básica!! Isso é totalmente fora da realidade e mais, uma falta de respeito com esses profissionais que são a peça chave na atenção básica! To me perguntando até agora se vocês fizeram minimamente uma pesquisa em unidades reais, pra ter deixado o enfermeiro de fora…”

Muita discussão em torno da representatividade da série, de sua inserção na análise dos reais problemas que compõem o mundo em questão aparecem contempladas nos comentários que se seguem:  

 

Muito legal a #UnidadeBásica, está me fazendo lembrar do tempo que pude circular com dois médicos de família em Salvador no ano de 2012. Os dois, com bom conhecimento do território, bastante vínculo com as pessoas. Atençāo básica compromissada com outra produçāo de saùde.”

 

“Trata-se de uma série realmente antenada com o cuidado humanizado em saúde. Uma série onde a pegada não se prende à correria dos pronto-socorros hospitalares, mas às sutilezas do trabalho compartilhado no dia-a-dia de uma comunidade. Onde cada personagem, independentemente de seu pertencimento formal aos quadros do equipamento de saúde, é PROTAGONISTA do cuidado. Isto não é trivial e só encontramos justamente na bela construção do cuidado em um sistema admirado internacionalmente chamado SUS!”

Adorando! Integralidade e humanização na atenção básica.”

“Trabalho na atenção básica, não é fácil…”

 

“Também parece muito bom!! Pelo trailer realidade nua e crua…”

“Gente, eu adoro as séries da Universal, mas desculpem essa é muito pretensiosa. Depois do House e agora do Chicago Med e outras séries de sucesso sobre o tema…. espero que seja boa, mas não contem comigo.”

“Já estava mais que na hora de uma série médica brasileira, para mostrar a realidade do nosso país!”

 

Impressões mais elaboradas aparecem sob a forma de postagens na RHS, como a de um médico de família e comunidade que se apresenta como um apaixonado pela Atenção Primária em saúde:

 

https://redehumanizasus.net/95313-unidade-basica-de-saude-ubs

Neste domingo teremos os dois últimos capítulos da primeira temporada. Imperdíveis!!!