Erguer-se e ser pai.

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Um pai que pode se erguer, cuidar, prover e proteger depois de ajudar a conceber um filho, tem sido uma dádiva recente nos milênios em que nossa espécie tem estado sobre a terra. Viver para ver seu filho ter filhos é, igualmente, uma generalidade inusitada que ganhamos ao longo dos últimos séculos. Somente os Deuses tinham filhos que tinham filhos. Nossas existências eram curtas demais, antes dos profundos sulcos que a tecnologia abriu em nossos incontáveis destinos.

Hoje somos tantos, e tão interligados, que a expectativa de vida de um recém nascido negro pode ser de menos de 30 anos em um bairro pobre. Mas um menina branca pode ter a expectativa de mais de 80 anos de vida em um bairro de classe média.

Me sinto privilegiado por viver esse tempo em que meu filho e meu pai estão ao meu lado em minha já meia idade. A paternidade vem se constituindo em um empreendimento cada vez mais feminino. A função paterna não tem outro sentido que não o de nutrir e cuidar amorosamente. Ser pai é, em certa medida, ser tão cuidador quanto a mãe.

Meu pai é hoje, na relação dele com meu avô paterno, o mais velho. Nas fotos que restaram, meu avo conta menos anos que meu pai.

Neste dia dos pais desejo que meu filho possa viver num mundo em que ele se recorde de mim como o mais jovem na virada do século XXII.

O mundo parece seguir um caminho que varia entre a apocalíptica queda e o salto evolutivo. Espero que seja um salto que nos faça, finalmente, sermos menos selvagens do que há 10 e 100 mil anos atrás.

As vezes acredito que o mar das almas nasce nas altitudes das montanhas. Os destinos seguem em direção as planícies, ao nível do mar. Cada alma ligada a outra, como no oceano que se constitui da soma de cada uma das incontáveis moléculas de água que o compõe.

Depois de nos relegarmos ao oceano, caímos novamente para as alturas. Evaporamos para voltar a cair sobre o topo das montanhas e reiniciarmos novamente a jornada.

É um universo Misterioso em que fluímos numa irmandade que ruma a um destino comum. Em que a singularidade e a identidade emergem nos sutis trajetos que cabem a cada um de nos.

Feliz dia dos pais!