A escola só ensina a passar na prova? E o que isso tem a ver com a saúde?

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Lambe-lambe na Escola Estadual Fernão Dias Paes

 

A escola é a reprodução da nossa sociedade, e isso não é nenhuma novidade.

Não por um acaso é sempre em torno da escola que encontramos as grandes discussões do mundo contemporâneo , e não tão contemporâneo assim: gestão democrática, igualdade de gênero, diversidade sexual, laicidade, entre tantos outros.

Como todos sabem que a escola produz e reproduz padrões, os currículos são uma grande arena de discussão e combate.

Mas será que algo ainda não foi devidamente posto em discussão sistemática?

A imagem da escola sempre está associada a provas e testes. A avaliação, aliás, surge como um valor importante em si, nos dias de hoje.

“A política foi avaliada”.

“Os nosso indicadores de avaliação são..”

Essas são frases recorrentes que falamos enquanto militamos na área da saúde e da educação. Mas afinal, o que queremos dizer quando falamos: avaliação? 

Marylin Strathern, uma antropóloga inglesa, nos lembra que vivemos em uma ‘cultura da avaliação’. O problema, diz ela, não é a avaliação, mas quando voltamos todas as nossas energias para ela.

Isso é muito recorrente. Basta observarmos como muitos pesquisadores passam horas e horas preenchendo os Currículos Lattes e fazendo as avaliações da Capes.

E no Ensino Médio não é diferente, afinal, porque as escolas são ranqueadas de acordo com as notas do ENEM? A avaliação é do aluno, da escola, ou do quê?

Para Strathern e outros antropólogos, essa mentalidade e lógica das avaliações parecem permear o nosso mundo, e é por isso que observamos uma geração cada vez mais interessada nos resultados e dados do que no processo em si.

Mais importante do que entender o que as pessoas acham de positivo e negativo nas políticas públicas, precisamos saber quantos porcentos a aprovaram.

Mais importante do que entender o processo de saúde-doença, precisamos colocar a demanda dentro de uma patologia ou produto para ser encaminhada dentro do protocolo de atendimento.

Anos de um ensino compartimentalizado e competitivo só poderiam resultar no nosso impasse: como falar sobre a importância da promoção integral da saúde quando ensinamos desde cedo que biologia e sociedade são matérias diferentes?

E é de cedo que estamos propondo essa lógica da avaliação e competição.

O Documentário Padronized aponta para alguns perigos:

Por décadas, testes padronizados são parte da educação pública dos Estados Unidos. Nos últimos 10 anos, entretanto, esses testes tomaram um papel mais importante, e possivelmente mais prejudicial. Os resultados dos testes são tratados pelos políticos como uma avaliação da habilidade do estudante e da efetividade do professor e da escola, mas esses testes são tudo, menos isso. Esse documentário coloca luz na natureza inválida dos testes, as consequências terríveis dos testes de alto risco, e a quantidade de dinheiro e interesses capitais envolvido nesses testes.”

E esse é um debate importante para o Brasil, já que estamos, desde os anos fundamentais até a pós-graduação, envolvidos em avaliações padronizadas.

Não por um acaso o projeto Padronizar a Avaliação Escolar Pra Quê? propõe esse tipo de discussão.
 

Por que estamos colocando cada vez mais crianças jovens nessa lógica? Que tipo de sociedade patológica esse padrão está criando?

 

 

 

É preciso discutir o impacto dessa ‘Cultura da Avaliação’ e como ele produz corpos doentes e uma sociedade patologizada.

Afinal, dentro da defesa da diversidade e múltiplas trajetórias e interfaces, padronizar a avaliação pra quê?