Apoio Institucional e as funções do apoiador

Olá Carina,

Muito instigante a sua discussão sobre o apoio institucional.

Compartilho aqui a Revista Lappis sobre experiências e práticas de apoio no SUS, que traz entre outros artigos: O apoio institucional à cogestão e gestão participativa: a experiência de um hospital infantil em Teresina-PI

https://www.lappis.org.br/site/o-que-fazemos-sp-1348150660/publicacoes/1459-racionalidades-m%C3%A9dicas-e-pr%C3%A1ticas-integrativas-em-sa%C3%BAde-8

Obrigada por esta indicação.

Beijos! 

Pessoas humanas e em especial Carina.

Compreendido como função, o Apoio tem, entre outros, os atributos que a Carina elenca. Portanto, o Apoio deve ser compreendido como atividade meio. Sendo assim, de imediato ocorre uma questão que me parece fundamental: como podemos aclarar qual seria o significado desse "meio"?

1)Seria estar no meio. No meio de todos, acessando as subjetividades e, também, e isto nem sempre é lembrado, as objetividades dos sujeitos. Nesse sentido, compreendo estar no meio dos sujeitos e com eles;

2) O "meio" também pode ser compreendido como o lugar da metade entre duas coisas. O meio é, neste sentido, a passagem por um ponto que remete ao tempo passado, ao acontecimento do momento e ao devir. O "meio", assim compreendido, é uma passagem no tempo, definindo um caminho e arriscando no desconhecido do futuro;

3) Ainda há outra possibilidade. O "meio" também pode ser o conjunto de possibilidades do fazer, determinadas pelo que se deseja e pelo conhecimento acumulado no trajeto efetuado ou pretendido.

As tentativas de definição de Apoio que conheço carregam, para mim, alguns sentidos viciosos, compreendido o termo como um certo bater na mesma tecla.

1) A noção de que o Apoio é uma função. Ora, o que vem a ser função? A origem do termo vem do encontro antigo entre a filosofia e a matemática. Nesse âmbito "função", grosso modo, significa relação ou relações entre dois ou mais conjuntos ou elementos. Isto lá pelo século XVII, com Leibniz. Contudo, no encontro com outros saberes e seus axiomas, a noção mudou de significado. Tornou-se, por exemplo, expressão de ter uma responsabilidade para realizar tarefa (s).

Pois bem, em nenhum desses dois exemplos se encaixa o Apoio. Ambos os significados me parecem restritivos ao que o apoio representa.

2) A ênfase no acesso às subjetividades, apostando sua operação nas condições intersubjetivas dos encontros entre atores que se propõem a alguma coisa. De certo este é um elemento fundamental para a operação pretendida. Mas, também não basta. Pode levar a uma execução de ações intuitivas, sem falar que, sempre que se lida com experiências intersubjetivas se instala, de imediato a eterna disputa pelos poderes, consubstanciada na ação pela argumentação entre os atores para fazer valer as suas próprias subjetividades. Contradição antiga, secundária, entre humanos.

3) Mais uma. Os limites, algumas vezes, entre o lidar com realidades plurais implica que o apoio, idealmente, não teria objetivo. O ato de apoiar algo ou alguém deveria ser idealmente sempre ancorado na demanda do outro que solicita apoio.

4) Quando se apoia sempre se está apoiando a si mesmo em algo ou alguém. Em geral o sujeito objeto do apoio.

Tentando uma alternativa para essa noção. Afirmo "noção" e não "conceito", porque neste último caso o Apoio já teria estrutura teórica bem definida, o que não é o caso. Apoio só é conceito na matemática e, mesmo aí, dependente dos axiomas que o precedem.

Parto de uma provocação teórica. Que tal pensarmos o apoio como prática. Como tal ele teria na sua definição, e restrito ao âmbito das humanidades, partindo de seus elementos intercambiáveis, quais sejam, o objeto, os meios e os fins. 

O objeto, aquilo sobre o que se fala, se desdobra, abrindo espaço para as inúmeras possibilidades que os encontros entre humanos evidenciam. Delimitar objetos, focar nos seus elementos constitutivos permite aclarar, afinal, quais são as reais preocupações dos atores envolvidos nessa prática.

Os meios. Nisto a Humanização tem uma vasta experiência e os temas expostos na própria RHS o atestam e os itens que estão nas postagens mostram a pletora de maneiras que os sujeitos encontram para executar a sua prática dentro do Movimento HumanizaSUS. Inclua-se aí a ênfase nas subjetividades, em detrimento do que há de objetivo na própria prática.

Por fim, os fins. Os elementos dessa categoria também aparecem com frequência. Democracia Institucional, Protagonismo dos Sujeitos, Participação Coletiva, etc. São proposições finais muito propaladas nos textos que tem como tema a Humanização.

Parto do princípio de que na linguagem se revela muito da experiência subjetiva dos sujeitos. E, em uma língua tão difícil como a nossa, a ambiguidade dos termos sempre é uma atrapalhação. Por isto penso que devemos aclarar sobre o que estamos falando.

Que falem os apoiadores.

Beijo fraterno a todos e, para ser politicamente correto, a todas (rsrsrsrs).

Carlão