Analgésicos para lactantes podem causar sonolência em recém-nascidos e atrapalhar a amamentação

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Essa é a constatação do médico pediatra e assistente médico da Fundação para o Remédio Popular (FURP) Paulo Aligieri. Segundo ele, em algumas maternidades de São Paulo as mamães saem de alta com receita de lisador como rotina, para analgesia, sem a especificação de uso “se necessário”.

Em sua atividade de consultório pediátrico, o Dr. Paulo Aligieri tem constatado que os recém-nascidos que tomam leite destas mães ficam sonolentos, não sugam bem e podem não ganhar peso adequado. Se a medicação for administrada apenas por um ou dois dias, ninguém percebe o problema porque o quadro é transitório. Mas, num dos casos que atendeu, a mãe usou lisador durante 8 dias. O bebê nasceu com 3.410g e, na consulta com 9 dias, tinha apenas 2.530g. O perímetro torácico reduziu-se em 5 cm em relação ao medido na maternidade.

Com as informações (sobre este e outros casos) que forneceu ao Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, o tema foi incluído no boletim informativo de novembro de 2014.

De qualquer forma, a bula do produto deve ser mais clara em relação à restrição de uso continuado do produto por lactantes, e aos riscos que ele pode acarretar aos recém-nascidos. A despeito dos custos que esta complementação da bula podem representar para a indústria fabricante, bem como de eventual redução na procura do produto, esta é uma obrigação legal e ética da empresa que, se ignorada, pode também ser efetivada por uma imposição da Anvisa.

As empresas farmacêuticas recebem incentivos do Poder Público para fomentar a comercialização de seus produtos. Mas esses incentivos não podem estar desvinculados de uma política de ampliação da segurança e da transparência das informações sobre os efeitos dos medicamentos comercializados e disponibilizados nas redes pública e privada, como forma de contrapartidas para os cidadãos e consumidores. Essa é uma discussão que devemos fazer com a participação de toda a sociedade, principalmente com os principais atingidos e beneficiados: nós, os cidadãos comuns!

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A prescrição de determinados analgésicos para lactantes pode causar sonolência em recém-nascidos e atrapalhar a amamentação?

Atenção especial deve ser dada a situações em que as nutrizes utilizam drogas que possam reduzir a produção de leite, como os analgésicos. Um dos analgésicos mais vendidos no Brasil contém dipirona, prometazina e adifenina. Promove ótima analgesia, mas pode causar sonolência na mãe e no recém-nascido, além de reduzir a secreção do leite materno o que eventualmente pode impactar no desenvolvimento da criança. A bula deste produto informa: “a amamentação deve ser evitada durante e até 48 horas após o uso deste medicamento devido a possível excreção deste medicamento pelo leite materno”.

Em relação aos princípios ativos relacionados vale ressaltar que a prometazina é um anti-histamínico de primeira geração, grupo contraindicado na lactação pelo seu efeito anticolinérgico que inibe a secreção do leite. Pela sonolência que pode provocar no recém-nascido, e pela possibilidade de levar à inibição do reflexo de sucção, afetando a nutrição. Por sua vez, a adifenina é um parassimpatolítico, isto é, um anticolinérgico usado em condições que caracterizem espasmos vesicais ou urinários. A bula do produto aponta efeitos anticolinérgicos que reduzem as secreções de modo geral podendo, ainda, potencializar o efeito anticolinérgico de outros fármacos.

Efeitos adversos

São maiores os efeitos adversos deste analgésico composto quando a lactante recebe o produto sistematicamente, a saber, a cada seis ou oito horas, prática comum a muitas maternidades, e não somente nos casos de dor mais intensa. A Organização Mundial da Saúde considera este medicamento compatível com a amamentação se dado em doses únicas, alertando para evitar as prescrições de horário, além de monitoramento do bebê quanto à ocorrência de sonolência excessiva e outros efeitos adversos.

Fonte: Boletim Informativo nº 4 de Novembro de 2014 do Núcleo de Farmacovigilância do Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo