Saudações a um Grande Coletivo

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A semana de comemoração do aniversário dos 10 anos da Política Nacional de Humanização/MS foi, ao meu ver, um momento de colhermos os frutos de uma semente plantada a partir de 2003, ano do nascimento da PNH. Regina Benevides, a primeira coordenadora da PNH, provavelmente ficaria emocionada se pudesse presenciar a organização de tantas rodas comemorativas feitas por iniciativa dos próprios gestores e trabalhadores que, ao longo desses anos, foram compreendendo os sentidos de uma política fortemente assentada em valores de respeito à vida; se tocaria também ao ver de perto esse movimento que mais parece “pipocas de milho” explodindo nos quatro cantos desse imenso e complexo SUS e com “tantos sotaques diferentes”, como a própria Regina costumava afirmar ao conotar positivamente a diversidade dos territórios do nosso país.

Agradecemos aos pioneiros, Gastão Wagner, Regina Benevides, Gustavo Tenório, Beth Mori, Esther Vilela, Marilene Wagner, Eduardo Passos, Beth Barros, Vera Figueiredo, Ana Heckert, Cláudia Abbês, Jackson Sampaio, Rejane Vieira, Radilson, Liliana da Escócia, Raquel, Bernadete Peres, Dário Pasche para citar alguns que me vem à mente agora. Somos gratos a vocês que, lado a lado e numa disputa acirrada de ideias, souberam enfrentar o que há de mais atrasado e tradicional no SUS. Com maestria, fizeram valer as ideias basilares da PNH dentro do MS, das quais nos orgulhamos profundamente; teceram os fios que vêm amarrando, durante todos esses anos, o sustento teórico, prático e metodológico para que nenhuma dúvida pairasse sobre o que poderia ser um SUS humanizado, de qualidade, ético, inclusivo, acolhedor, corresponsável e democrático. Enfim, foram capazes de construir coletivamente, desde o primeiro momento, o que seria uma Política de Humanização capaz de provocar as mudanças necessárias para termos um sistema Público de Saúde.

A maioria dos pioneiros já partiu; outros vieram, mas também partiram; mas, outros e outras continuam a chegar, demonstrando que a semente foi plantada e continua a germinar, num movimento contínuo que sinaliza o funcionamento do viver. Esse processo de renovação e afirmador das vidas traz a energia criativa própria da diversidade e muito tem nos ensinado. Os que estão dando continuidade a esse processo não têm medo da luta e não se “acanham”, como costumamos dizer aqui no Nordeste. Pelo contrário, estão num grande esforço para cuidar dos propósitos da PNH e ampliar o seu alcance, criando novas tecnologias, abrindo a roda para outras parcerias e outras  grupalidades, dentro e fora do SUS. A rede Humaniza é o maior exemplo do quanto avançamos.

Desejo também destacar o engajamento dos coordenadores regionais, dos consultores da PNH e apoiadores dos diversos territórios; todos atentos e determinados frente aos jogos de interesses de grupos e disputas de sentidos dessa construção. Vigilantes também para não cairmos em “armadilhas”, ao atender demandas que podem enfraquecer a PNH e banalizar as razões pelas quais a mesma foi criada. Recentemente, e com o apoio de Gustavo Nunes, fomos capazes de amadurecer politicamente, aprofundar as análises da nossa inserção nos territórios, focalizar as ações, descentralizar e reorganizar nosso arranjo de gestão, reforçando a gestão colegiada e a corresponsabilidade na condução da Política Nacional. Entramos em outras Rodas e Redes exigindo de todos muito foco e diálogo para dentro do coletivo e junto a outras políticas do MS. Nosso núcleo técnico/MS tem dado uma demonstração de maturidade e competência na costura política interna/MS, cujos efeitos positivos podemos sentir de imediato no nosso território.

Hoje estamos acolhendo o coordenador da PNH em transição,  Fábio BH. Seja muito bem vindo companheiro! Não lhe conheço de perto, mas você já tem todo o meu respeito e admiração. Essa militância aguerrida em defesa do que é público nos emociona sempre. Também falar da minha simpatia pelo seu constante chamamento: até à vitória! Gosto disso! De pensar as vitórias de todos os dias, vitórias cotidianas, vitórias que se multiplicam diante de nós e sem querer, muitas vezes, as desconsideramos. Na semana passada, observado a vida dentro de uma unidade de saúde, parei reflexiva diante das macas ainda acomodadas nos corredores; mas,  desviando o olhar, vi que a recepção parecia mais acolhedora, com uma escuta atenta dos que ali se dirigiam. Observei os rostos angustiados de alguns trabalhadores “batendo o ponto” bem cedinho e murmurando com raiva: “isso só vale para os pequenos”. Olhando o fundo da sala, senti um olhar impotente de um usuário como se quisesse pedir algo, mas vacilasse em se dirigir a alguém. De repente uma voz me chama a atenção; eram duas profissionais conversando enquanto pegavam água no bebedouro e uma delas dizia o seguinte: “eu sei exatamente como mudar essa confusão do fluxo dos usuários vindo direto para a Farmácia. A outra retrucou: “Como?” “Muito simples: participando da reunião do colegiado do Misto2, sei que eles se reúnem nas quintas feiras, vamos ter que ir lá, abrir o jogo, enfrentar essa situação, propor outro percurso, falar das nossas dificuldades…” E sob o meu olhar curioso, se distanciaram com as mãos cheias de copos d’água. Olhei para Teresa Freire, apoiadora da PNH desde seu nascimento, como quem perguntasse: será que ouvi bem? Essas trabalhadoras estão falando que vão levar as preocupações da farmácia, dos seus processos de trabalho para discutir em outro colegiado e buscar uma solução para os problemas? Peguei na mão de Teresa e, num gesto de cumplicidade, ela me olhou sorrindo. Vi no seu rosto um sorriso de alegria, um sorriso de vitória. 
Sheylla Maria de Moura Rodrigues