Seres Humanos e Algorítimos

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Conversar em Redes Sociais é como falar alto em um ambiente público, como na rua ou em uma praça. Podemos estar contando coisas para pessoas que não sabemos quem são ou que, simplesmente, colhem fragmentos de nossa fala ao movimentarem-se pelo ambiente virtual.

Mas, ainda assim, é mais do que um ambiente público. As time line são arquiteturas de inter-relações coletivas construídas não pela força, eloquência, delicadeza, sutileza e clareza de nossos argumentos.

Elas são processadas por algorítimos que são capazes de classificar a informação em grupos de temas de interesse, acrescentar sentido através das indexações ocultas pelo fluxo que compõe nossos compartilhamentos e estados de espírito. Ou seja, tudo o que vamos acrescentando à nossa linha do tempo.

Portanto, não somos nós os emissores que decidimos quem vai nos ler. Na verdade, não é ninguém. Esse processo eurístico de organizar e dar significado aos bilhões de gestos comunicativos que compõe as redes sociais não é feito por humanos.

Em alguns casos, os algorítimos decidem em função do quanto você paga. Mas essencialmente ele projeta suas postagens em linhas do tempo de pessoas que tem os mesmos interesses que você. Pois isso facilita o critério de exposição ao marketing de mercadorias de forma a otimizar as relações de troca. Isso, em parte coloca as pessoas em círculos de empobrecimento da diversidade. Em tese, isso levaria todos a verem seu mundo, e não a diversidade do mundo em suas páginas nas redes sociais.

Mas tenho observado que assim como eu, muitas pessoas tem um comportamento que confunde os parâmetros de tomada de decisões dos algorítimos. Agente é de esquerda mas adora ver os vídeos do Olavo de Carvalho, do Padre Paulo Ricardo e do Rodrigo Constantino.

Quase certamente, as pessoas de esquerda conhecem mais as manchetes da VEJA do que aqueles a quem a revista pretende cooptar para suas teses tendenciosas, como o perdão do trocadilho. Muitos gostam de teologia e curtem pornografia. Lemos filosofia e histórias em quadrinhos.

Claro, há sempre uma linha mestra que espelha sua singularidade e permite ao autômato lhe aplicar alguns rótulos. Assim, fotografia, astronomia, ufologia, geologia, geografia, humanização do SUS, direitos humanos, filosofia, política e notícias de páginas como VOZ DA RÚSSIA, compõem um conjunto de rótulos que está longe de me definir univocamente. Cada um é uma "legião urbana", já que a rede é uma grande metrópole que une as populações de todos os territórios do planeta.

Então, quando publicamos nas redes sociais estamos falando para receptores que não escolhemos. Estamos colocando a nossa forma de ver o mundo como limite de nosso ambiente virtual. E estamos ensinando ou, compartilhando, a complexidade de nossas mentes com esses organismos cibernéticos que estão computando com uma velocidade cada vez maior.

Eu não sei quantas pessoas irão ler esta postagem. Mas tenho certeza que em um centro de processamento de dados, cada letra, acento, vírgula e espaço será "lida" por um algoritmo. E sua função será programar em quantas e quais páginas ele irá ser ofertado como opção de interação.

Já somos híbridos. Já não podemos nos iludir que somos apenas nós. Somos os nós que conectam outros nós. E no íntimo, carregamos o todo familiar, comunitário, social e político.