O SUS e seus problemas reais.

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O SUS e seus problemas reais, como enfrentá-los?
 
Vivemos certamente um SUS multifacetado, com muitos êxitos e muitas contradições. Esse SUS que tanto é alvo de críticas é fruto de um movimento radical pela democratização de nosso país que iniciou na década de 70, mas até hoje não “ganhou” a população de uma forma geral. O SUS melhorou muito o acesso da população à saúde, pois antes de 5 de outubro de 1988 só quem tinha acesso aos serviços públicos de saúde eram os trabalhadores formais de nossa economia ( aqueles que possuíam “carteira de trabalho assinada” ). Houve, além disso, uma ampliação do acesso a outros serviços, antes inimagináveis, como: vacina, tratamento de câncer, saúde da família, etc.
Mas não podemos negar que o SUS ainda encontra-se incompleto. Espero que com a nova administração municipal os futuros gestores enfrentem de peito aberto a criação de um novo modelo de gestão que venha a garantir o funcionamento desburocratizado, humanizado e com resultados palpáveis, trabalho este que vem sendo gestado pela atual equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde. Através da literatura sabemos que países como Portugal, França e mesmo a Inglaterra conseguiram inventar formas que alcançaram eficácia, humanização, eficiência e além de tudo, baixar os enormes custos…Um sonho com certeza possível!
Apesar disso no Brasil, aceitamos o discurso da privatização como a panacéia dos problemas da saúde de nossa gente, como se fosse possível organizar a vida em sociedade sem serviços estatais, sem políticas públicas de segurança, saúde, educação e ecologia. Se o Estado não fizer isso, não sei quem vai fazer. E, para isso, precisamos ter funcionário público, avaliação de desempenho, controle social e muitas outras coisas.
Outro ponto de estrangulamento advém de que as pessoas procuram os convênios privados de saúde que oferecem uma cobertura baixa e acabam fazendo o uso misto: consulta no convênio e pega a  insulina no SUS. E é esse SUS que tanto recebe críticas. Pergunto: a existência do serviço suplementar de saúde veio a prejudicar o fortalecimento do SUS? Sabemos que em 2007, o financiamento da saúde suplementar passou a ser maior do que o do público. Isso já demonstra a inversão de valores que vem se criando com nosso governo. Inverteu-se a lógica que historicamente vinha sendo construída. Então é um empecilho real. E é um empecilho de desejo, de luta, de mobilização: as pessoas passaram a aspirar, na sua cesta básica de vida, a uma caminhonete e a um plano de saúde. Isso é incrível porque acontece no momento em que os Estados Unidos, que é o país que tem a maior saúde suplementar do mundo, está revendo esse modelo, está literalmente em crise. Até o novo presidente daquele país já manifestou o desejo de criar um serviço público de saúde. Porque, por mais dinheiro que você tenha o seu plano privado não vai garantir a atenção integral. Há um reconhecimento de toda a Europa da necessidade de ter um setor público socializado de atenção à saúde. Então, para que SUS para todos? Dizem de forma pejorativa que o SUS tem que ser para os pobres. Um absurdo!
Outro gargalo que vivemos é que o SUS não tem uma política de pessoal razoável, nem de formação, nem de seleção, recrutamento, carreira e nem de salários. Formamos muitas vezes profissionais de saúde sem o compromisso devido com o sistema público e muito menos com a população que é atendida.
 
Outro aspecto que chama a nossa atenção é que precisamos considerar além da dimensão social e econômica da saúde, a dimensão do risco: alguém que tem Aids precisa ter mais assistência do sistema público do que quem não tem, seja da classe A, B ou C. Se for da classe E, vai precisar ter muito mais, porque a terapia vai ser mais ampla, tem que ter bolsa-família, bolsa-alimentação. País desigual é isto! Esses são alguns dos enfrentamentos e caminhos a serem construídos coletivamente entre, gestores públicos, profissionais de saúde e população.