O PSIQUIATRA NO APOIO MATRICIAL: ABRINDO MÃO DO SUBSTANTIVO E DANDO LUGAR AO SUJEITO E AO VERBO

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     Dentre as especialidades médicas clínicas, a psiquiatria pode ser considerada como a mais hierarquizada, no sentido de que ela transcende o modelo médico baseado no orgânico e em fatores etiológicos. O sujeito em sofrimento psíquico aponta todo o tempo para esse mais além e para a falta que o saber científico não consegue dar conta.
     Pensando no apoio matricial como dispositivo humanizado para a troca de saberes entre a atenção básica e psiquiatria, podemos nos perguntar sobre qual seria a ampliação da clínica, proporcionada pelo apoio do psiquiatra à rede de saúde. Qual seria a especificidade do saber psiquiátrico, a ponto de podermos justificar sua presença numa equipe de NASF por exemplo?
     Desde 2010 venho trabalhando na prefeitura de Jaraguá do Sul, SC, como apoiador da rede de atenção psicossocial. E é a partir deste trabalho que vou lhes falar. O psiquiatra que está num apoio matricial, não está lá por aquilo que lhe é demandado, mas sim para poder acolher o que lhe é endereçado. Acolher não é responder à demanda.
     No discurso que vivenciamos atualmente, onde muitos almejam objetos que trazem a promessa de uma satisfação plena e eterna, o psiquiatra aparece para o outro profissional como alguém detentor de tais objetos (remédios, saber…).
     Na PNH, muito se fala em empoderamento, que é uma palavra derivada de “poder”. Acontece que poder é um substantivo, mas também é verbo. O profissional que demanda o apoio diz que “não sabe”, sem saber que sabe e encobrindo seu verdadeiro pedido: “me ajude, porque eu não consigo, não posso…”
     O psiquiatra então, visando o sujeito que ali demanda, pode “fazer de conta” que detém esse saber, o que favorece a aproximação entre ambos. Porém, ao resistir à sedução do poder (substantivo) que lhe é conferido, o psiquiatra pode não sugerir medicamentos, mas sim dar lugar à palavra, fazendo emergir o sujeito que sabe, consegue e pode (verbo).
     Teria o psiquiatra do apoio matricial, um lugar mais estratégico do que necessário?