Diálogos: Singularidade e Singularidade Tecnológica.

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Um registro das interações que brotam de pensar livremente.

Querido Marco,
Enviado por Maria Luiza Car… em qua, 25/01/2012 – 14:15.

Mais um post intrigante e que vai fundo em muitas questões. Inquietante, mas também marcando a possibilidade de novas aberturas para o inusitado.

Quando você fala de um momento em que não são mais possíveis as predições, me pergunto se não foi sempre assim. Predições como um desejo humano de controlar a vida e o futuro, na linha da "organização" e da teleologia. Marx pensou que um futuro da tecnologia pouparia o homem de tarefas "menores", para que ele pudesse transcender pela fruição das artes e outras produções humanas. Não sei se faço uma afirmação incorreta, mas parece-me que era isso que dizia… E o que vemos? Por um lado, uma grande liberação das forças humanas, mas por outro…

Gostaria que você indicasse leituras sobre essa questão das "singularidades tecnológicas". Já ouvi falar, mas nunca li nada.

Um beijo e obrigada,
Iza.

Iza, você está certa.
Enviado por Marco Pires em qua, 25/01/2012 – 16:07.

Ontem e hoje, depois de ter escrito este post, estive relendo "Hominescências: O começo de uma nova humanidade?" de Michel Serres. Ele pontua que sempre estivemos em meio a estas bifurcações, que vistas em conjunto são como que rizomáticas. Pois bem, elas trazem um índice de incerteza e imprevisibilidade constante a cada abertura que promovem.

Essas bifurcações, ou encruzilhadas como diria o Eduardo Passos, é que estão cada vez mais intensas, acelerando-se e permanecem incertas quanto às conseqüências que trarão para os humanos. Por um lado estamos criando uma nova humanidade. Por outro, estamos assassinando ou exterminando a antiga. Parece que isto afirmam tanto os otimistas, quanto os pessimistas.

A noção de singularidade tecnológica é abordada por vários autores. O que ilustra o post é um dos mais conhecidos. Ela é uma especulação baseada em cálculos matemáticos. Poderá não acontecer ou acontecer de inúmeras formas.

A ficção científica trata de vários cenários futuros em que algum grau de singularidade tecnológica foi atingido. O mais clássico para mim é o de Jornada nas Estrelas. Nele uma civilização de ETs avançados, os Vulcanos, nos ajudam a partir em viagens pela galáxia a partir do momento em que nos tornamos capazes de viajar mais rápido do que a luz.

No entanto, cientificamente, as apostas estão entre o desenvolvimento de uma inteligência ou superinteligência artificial e o aumento súbito na expectativa de vida através da engenharia genética. Caso, aliás, muito bem descrito em um romance que marcou minha vida: "Partículas Elementares" de Michel Houellebecq. Os rudimentos do tema, até com algum aprofundamento, estão a disposição na internete.

Obrigado e um grande beijo!

Um cálculo matemático…
Enviado por Maria Luiza Car… em quar, 25/01/2012 – 17:44.

Quando penso no termo singularidade, sempre o associo ao conceito de imanência e então fica mais fácil, pelo menos para mim, entendê-lo!

Agora quando você falou em matemáticas, lembrei do gráfico que aprendemos na escola, onde haviam coordenadas verticais (abscissas?) e horizontais (não lembro mais o nome…) e que se traçássemos uma diagonal partindo da origem ou ponto zero de coordenadas, obteríamos uma resultante. Isto me ajuda, ou atrapalha, para pensar uma singularidade como a resultante única de múltiplas determinações? Ahahahah… Na tentativa de entender, simplifiquei demais a coisa! Ou não entendi nada…

Obrigada pelas dicas! Valeu, amigo!
Um beijo.

Singularidade, entrelaçamento e vínculo.
Enviado por Marco Pires em qua, 25/01/2012 – 21:46.

Singularidade em física teórica, antes do que na filosofia ou psicologia é um conceito que explica pouco. Mas serve para nomear um estado inexplicável.

Segundo a teoria mais bem estabelecida a respeito do universo tudo começou há cerca de 15 bilhões de anos em um ponto com uma densidade, ou peso, infinitos, Então, Bang! O universo, o tempo e o espaço começaram a existir e a se expandir. Surgiram as galáxias, as estrelas e os planetas. O nosso, formou-se há 4,5 bilhões de anos, depois veio a vida microscópica, os dinossauros, as aves, os mamíferos e aqui estamos nós conversando pela RHS.

É curioso que o termo singularidade sirva para falar do que existia antes do tempo, do que resta quando a massa de uma estrela desaba para dentro dela mesma e para falar da condição de um indivíduo humano. Mas faz sentido que portemos, em nós, a complexidade e o mistério que nos faz tentar entender ao mundo e aquilo que somos.

Neste sentido é coerente falar de imanência como uma possibilidade ou característica da singularidade. Pode-se dar sentido a fraternidade, a igualdade, a diversidade e ao amor quando aceitamos que cada átomo em meu e em teu corpo,foram forjados no interior de uma estrela. E que toda a matéria em uma estrela já esteve um dia naquele ínfimo ponto de onde emergiu todo o universo.

Por isso, se diz que não há separação. Existe apenas entrelaçamento e vínculo. E toda distância e o tempo que aparentemente nos separam, na verdade são pontes calorosas e acolhedoras que nos ligam.
Um beijo!

Acho que começo a entender…
Enviado por Maria Luiza Car… em qui, 26/01/2012 – 07:36.

A criação deste universo e não qualquer outro seria uma singularidade física? Ou continuo pensando filosoficamente, em vez de entrar no campo da física?
Iza.

O que entendemos.
Enviado por Marco Pires em qui, 26/01/2012 – 20:30.

Os filósofos são mais sábios do que os físicos. Se não, vejamos: Uma singularidade em física é o que não pode ser conhecido. Não tem dimensão, nem espaço e nem tempo. Podem existir múltiplos universos. A singularidade é o que lhes dá início. É o antes.

O pensamento aqui não é enunciado por uma ou outra personalidade. Muitas pessoas como Albert Einstein, Werner Heisenberg, Max Planck, Louis de Broglie, Niels Bohr, Erwin Schrödinger, Max Born, John von Neumann, Paul Dirac, Wolfgang Pauli, Richard Feynman e outros trabalharam em conjunto para dar conta de uma teoria consistente que é a base da tecnologia que está nos pondo em contato agora.

Já os filósofos pensam a singularidade como condição existencial. Um aspecto da identidade que compõe uma ontologia dos seres e das coisas.

Os físicos não procuram, desde a mecânica quântica, pela natureza das coisas, dos objetos ou da identidade. Seu foco é na probabilidade estatística e no estado da matéria em um dado momento.
Obrigado pelo diálogo! Um beijo!

Interessante que a singularidade em física seja…
Enviado por Maria Luiza Car… em sex, 27/01/2012 – 20:54.

Algo indiferenciado, uma pré-individualidade. Um devir, enfim!

Enviado por Marco Pires em sex, 27/01/2012 – 21:17.

Iza,
Acho que o que estamos investigando (parecemos como “CSI” do pensamento) é uma relação entre a física teórica e os pensamentos – filosófico, psicanalítico e esquizoanalítico. Essa questão já havia se insinuado em outro post. Lembro que alguém lembrou em algum lugar que Deleuze havia dito algo sobre se apossar dos conceitos e reelaborá-los em outros contextos.

Esses parentescos ocultados entre o pensamento sobre as coisas e o antes, sobre as forças e as energias nos dá a sensação de que a originalidade de um pensamento está nas afiliações, cruzamentos e relações que o fundam.